quarta-feira, 12 de novembro de 2008

APRESENTAÇÃO

ATENÇÃO! ATENÇÃO! Começa aqui o mais novo diário mensal de Rio Branco, direto de uma terra distante, terra de gente boa onde nem tudo o que parece é. O óbvio não existe no antigo Império de Galvez... a começar por esse Diário. O Diário de um Acreano é escrito por um carioca. Aliás, por um interiorano do Estado do Rio de Janeiro, também chamado de fluminense (mas como sou rubro-negro, prefiro evitar essas intimidades). Costumo até me apresentar como carioca do Acre. Mas de acreano mesmo, só tenho o coração.

Vim como muitos trabalhar por essas bandas, atrás de novas experiências, de novos amigos, de novos amores... enfim, atrás da minha vida. Literalmente, correndo atrás dela. Ainda lembro quando cheguei por aqui, no dia 24 de julho de 2003. Acabava de chegar numa terra tão improvável e tão estranha ao meu mundo, que não tinha a menor idéia do que esperar, apesar de não temer. Oras, tinha lutado tanto pra estar ali, não era o desconhecido que me poria medo. E assim foi.

Tudo era novidade, descoberta e conhecimento. No meio desse furacão de mudanças pelas quais passava, me deparei com um ambiente repleto de vida, de alegria e de camaradagem. Uma terra recheada de pessoas gostosas de lidar e de conviver. Não teve jeito: me apaixonei. O Acre se transformou no lugar onde consegui minha independência emocional e financeira, no meio de tantas outras alegrias e tristezas.

E o bom de ser errante por esse mundo é que você se liberta das âncoras que te fixam nos lugares. Família, amigos e amores me fizeram deixar pedaços de momentos felizes e inesquecíveis, mas não prenderam minha alma. Acredito que ela tem que ser livre o bastante para, inclusive ficar, se preciso for. Por isso mesmo, uma das perguntas mais difíceis que me fazem e que até hoje não tenho uma resposta sincera a dar é “de onde você veio?”. Pode parecer besteira, mas eu não sei. Costumo responder que nasci em Volta Redonda, mas não sei de onde sou. Não tenho a menor idéia. Vou pegando um pouco de cada lugar por onde passei e me construindo e desconstruindo. Só carrego lembranças e saudades... as minhas amarras ficaram pelo caminho.

E foi desse jeito que cheguei ao Acre, de coração aberto, sem “pré-conceitos” e, principalmente, com bom humor, porque parodiando o poetinha, os “mal humorados que me perdoem, mas bom humor é fundamental.” E uma das formas que descobri para matar saudades e estar mais perto dos meus, mesmo que longe, foi escrevendo. Muitos me perguntavam se estava morando numa tribo indígena, se já tinha Coca-Cola por aqui, como era andar de carroça, enfim, todas aquelas perguntas típicas de sudestinos sobre a Amazônia “intocada”.

Comecei então a escrever para meus amigos e familiares, mostrando uma imagem muito particular de como vejo o Acre e suas, como costumo dizer, estranhezas. Ao mesmo tempo em que eu desmistificava o Estado daquela imagem atrasada, meio bucólica da vida na floresta, onde tudo se resumia “apenas” na maior biodiversidade do planeta, eu remistificava para um Acre vivo, pulsante, complexo e cheio de histórias saborosas que só poderiam acontecer aqui mesmo.

O meu Acre, antes de ser real, é lúdico, uma mistura bem bolada de Clóvis Bornay, Jacque Costeau e Bussunda: a fantasia e o luxo do primeiro, a coragem e o espírito desbravador do segundo e com o humor escrachado e debochado do terceiro. Misturando isso tudo com a grande necessidade do ser humano em construir e desconstruir tradições, orgulhos e “verdades”, escrevo brincando e realçando as acreanidades que fazem desse pedacinho de Brasil, perdido na Amazônia, tão especial.

As crônicas presentes neste blog, são de agosto de 2003 a outubro de 2008, e seu inicio se deu logo após minha chegada por aqui. Eu as enviava para o correio eletrônico dos meus conhecidos e, com o certo sucesso que fez (sabe como é, né?... família grande), desde meados de 2004, as publico em um blog na internet. Ora falo de Acre, ora de Brasil, ora das minhas angústias e felicidades... enfim, o mais importante é que traço uma imagem do Acre muito particular, ora alfinetando, ora enaltecendo a terrinha, mas sempre com muito bom humor. Não tenho a menor intenção de passar uma imagem arrogante de como enxergo o meu Acre. Hoje já me considero filho da terra. Apenas me dou o direito de falar do meu Acre querido, o construindo e desconstruindo, se preciso for.

Ah! Esqueci de dizer: por favor, toda e qualquer reclamação sobre o conteúdo, terei, como princípio de sobrevivência, que colocar a culpa na Fundação Elias Mansur, a irresponsável por ter dados as condições para a publicação desse livro. Já os elogios, podem mandar para mim mesmo... minha mãe vai adorar.
Saboreiem com os olhos sempre afáveis do humor

Felipe Mendonça
Outubro de 2008

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